07 abril 2021

Músicas sobre o amor

Não quero ouvir músicas tristes sobre o amor. Não quero sentir raiva de você, não tenho motivos para isso. Pelo contrário. Tenho motivos para devanear as coisas mais bonitas que puder criar. Tenho motivos para pintar sóis e achar beleza nos sinais que cacei.

O que sinto, na verdade, é gratidão por cada diálogo desconexo, pelos erros de interpretação e pelas frases de efeito que deixei passar batido. Gosto de lembrar com carinho das risadas despretensiosas, das rusgas que deixamos pelo meio do caminho, do meu jeito nada natural de tentar me encaixar.

Neste último ano, eu aprendi tanto que faria muita coisa diferente. Talvez fosse mais esperta e verdadeira, talvez me ouvisse mais e me entregasse, sem receio e ansiedade, ao prazer do momento, à felicidade tão rara nestes dias de caos.

O problema, no entanto, foi as músicas felizes sobre o amor. Elas atrapalharam os sonhos coloridos que dormiam dentro de mim, fazendo com que eu enxergasse aquela criança com olhos cor de mel, aquele acampamento nas montanhas, aquela liberdade barata e simples. Elas deram trilha sonora para o sentimento, antes abstrato, que agora criava forma, sensação e sabor.

No clímax do peito inebriado por rosas e purpurinas, veio a queda do cavalo tão ensaiada. Devaneio tem prazo de validade, lembrei, porque não é aquela loucura inquestionável, tão pouco realidade, por isso acaba. E aí chegam, tímidas, as músicas tristes sobre o amor, que querem te culpar a todo custo, ou colocar responsabilidades feias sobre mim. Mas eu não dou ouvidos, eu danço aquela música que fala que depois da chuva vem um sol para a gente viver.

As coisas bonitas da vida nem sempre te cobram a alegria que ofertam, preciso aprender isso pra não deixar esse meu peito cansado esquecer os encantos deste amor descomunal. Vou deixar a música tocar, vou olhar pra dentro e relembrar o momento, entender que nem só de clichês musicais se compõe um fim. Também sobram os bons sentimentos que podem sim fazer morada, apesar de perder, mais uma vez, a chance de fazer esse conto um enredo eterno.

Carolina Santana, 05 de abril de 2021


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