16 dezembro 2017

Não te vejo lá


Te vi mas não te reconheci. As marcas de expressão já não são as mesmas, os sinais do pescoço se apagaram, você consertou o sorriso e remodelou os defeitos e, ao fim, se distanciou de quem era pra mim.

A lembrança ficou viva, mas borrada, como um texto legível mas que a gente esconde porque revela a nossa falta de cuidado. Minhas memórias estão assim: vagas, impronunciáveis, imensas e vulgares.
Lembro e escondo o rosto, é obsceno trazer de volta. É passado demais, é pesado, nublado.

Infelizmente quebrei num ponto que nem a terapia me fez achar, que só um ano novo e essa chuva de novidades me dão a esperança de olvidar.

Desmanchei inteira e o conserto não é achar repostas, por isso desisti delas, também não é seguir rastros nem catar migalhas - já errei pra saber que a trilha é outra -, o conserto é olhar pra dentro com empatia, saber que não é errado ser, nem mudar, nem fincar por tanto tempo. É olhar pro alto e se vê no prumo, é não temer te olhar e não mais te ver porque a metamorfose pode ser muito linda também e são, muitas vezes, os percalços que nos desafiam e nos fazem vencedores.

Eu ainda vou achar graça do teu sorriso novo e um dia vou me acostumar com a ausência dos teus sinais, vou olhar gentilmente o novo, mas seja paciente pois meu tempo é preguiçoso e lidar é difícil. Sinto que já não estou tão longe, breve chego, não te vejo lá!

17 de dezembro de 2017, Carolina Santana.


Nenhum comentário:

Postar um comentário