25 novembro 2016

Um quase dezembro e a nuvem branca

27 de dezembro. 2014. O dia em que eu pintei uma nuvem branca na parede do meu quarto.


É quase dezembro e eu preciso muito falar. Faltam 5 dias pra dezembro e eu sinto em confirmar que tenho uma memória muito boa. Lembro perfeitamente do dia em que pintei uma nuvem branca na parede do meu quarto...


Eu tinha acabado de completar 20, de viver um natal traumático em que acordei de sobressalto depois de dormir chorando. Assisti bobagens até altas horas e depois me preparei pra dormir. Não consegui, e então fiquei ouvindo música, provando roupas, passando batom e andando pela casa. Foi aí que tive a ideia de pintar aquela nuvem lá.

A nuvem na parede do meu quarto resiste, há quase 2 anos, intacta e perfeita, como naquela noite de insônia. Eu a pintei lá por tudo que vivi, por todos os nãos que aquele ano instável me deu. Pintei porque amo o céu, pintei porque minha dor era uma nuvem carregada pronta pra desabar, e com ela ali, firme, eu podia me lembrar que eu era forte o suficiente pra aguentar qualquer coisa que me acontecesse sem me desmanchar inteira. E foi exatamente assim que se sucederam esses anos. Eu fui forte, eu fui aquela nuvem. Eu soava triunfante quando tinha trunfos pra exibir, mas me mantive intacta quando as histórias da minha vida pareciam ruir.

A nuvem presenciou a minha respiração ofegante em meio aos sorrisos histéricos. Ela também me viu escrever sobre tudo nos meus diários. Ela viu quando Jesus me deu colo naquela noite horrível. Viu quando contei, pela sexagésima vez, aquela história do rio, da praia, da padaria, da quarta série, da quinta série, da minha banda favorita e do primeiro vestido em anos! Tudo foi extremamente especial, apesar de às vezes triste. Ela me viu escrever adeus à lápis e sofreu comigo aquele 31 de julho. Ela cumpriu, heroicamente, o papel de decorar meu quarto azul e de me lembrar dos meus truques pra seguir. Ela esteve lá por esses quase 24 meses e agora, depois da revelia, vê comigo o sol sair.

Agora por lá existe um sol também, um sol que perdoa. Um sol que esquentou a dor, que iluminou meu coração e me mostrou que somos todos imperfeitos. Erramos, caímos e se não formos maleáveis o amor pode esfriar até que, insensíveis, congelemos, até as pecinhas do coração deixarem de funcionar.

Esse sol me lembra que agora existem lembranças boas, que em algum lugar está guardado o que fomos e o que seremos. E é pelo colorido das lembranças e pela alegria da esperança que é necessário encerrar um capítulo da história. 

O sol que chega aquece, dando espaço pra nuvem ser só ela mesma. Nem pomposa, tão pouco intacta, mas uma nuvem livre. Ela pode cair no mar ou voltar a ser nuvem, se quiser. Ela pode ser qualquer coisa desde que seja real, não só uma pintura na parede do meu quarto.

É quase dezembro e eu sei que o verão promete um mundo novo e quente, inebriado de coisas reais e novas que me esperam e, quer saber, como há dois anos atrás dou a cara a tapa, o coração aos riscos! Tô indo ver o que o sol clareia. Indo viver.

Carolina Santana, Um quase dezembro e a nuvem branca25 de novembro de 2016,


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