A vida é uma loucura. Escreve se não a gente esquece. Nada segue uma ordem, nada. As coisas se fazem e somem, desfazem e acabam por arrancar um pedaço da gente junto. Se eu fechar os olhos consigo lembrar uma frase pertinente. Uma frase que quebrou toda a estrutura da minha existência e me fez colorir por dentro. Não houveram contratos, contatos ou nada sério, mas era um acordo tácito, era pra sempre. Era, e era bem intensamente, mas se acabou.
Palavras não ficam registradas não, elas vem e vão, elas partem. As coisas ao redor também mudam, as circunstâncias anulam a vida. Um castelo de areia pode até ser grande e bonito mas continua sendo feito de areia, qualquer aguinha destrói. E o que fica? Um punhado de terra, um amontoado de pó, de sonhos pelo ralo. Mas ainda existe vida. E sonhos, e fé e esperança e coração pra se surpreender, pra doer, pra se doar, pra viver. Ainda existe uma fagulha tímida, uma chama que clareia a visão, que amplia a dimensão das coisas e que faz com que os pés, antes errantes, tomem um prumo e sigam adiante.
Às vezes vem um vento frio que insiste anular a constância da luz, mas o fogo não se apaga. À trancos e barrancos é possível seguir. Decepção não mata. Decepção te ensina viver. Ensina do modo mais doloroso, te arranca penas, te tira um pouco do brilho que permeia a vida mas te faz mais forte e menos trouxa. Te faz enxergar além do superficial. Te rasga inteira, é fato, mas depois te refaz e você se dá conta que é melhor assim.
Deixa os trapos de Cinderela e se veste de coragem e de bravura. Na vida é necessário se desfazer do conto de fadas pra viver de verdade um pouquinho. O real é duro. Às vezes maltrata e a gente apanha, mas a dor é o que nos faz humanos, nos faz melhores e mais fortes.
E vale a pena, sabe? Vale a dor! Vale as olheiras, vale a metamorfose, porque depois do processo de crescimento chega a hora de voar. Agora dentro do plano certo, no lugar que nascemos pra estar, com o necessário para ser e ser de verdade. Chega a hora de avançar uma casa, de começar algo novo e estar disposta a viver. Ao novo brindar, ao novo ter.
Carolina Santana, 27 de junho de 2016
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