Saudade de quando os sorrisos eram de verdade, os abraços
espontâneos e a vida corria solta, desprendida e sem o fardo tão pesado das
obrigações. Saudade de quando a gente saía sem destino, ou marcava uma praia à
noite, ou o papo durava a madrugada inteira. Saudade de não poder me despedir
porque as conversas emendavam uma nas outras e quando via o sol raiava.
Saudades de acordar cedo nos sábados, vestir o peito de força e ganhar mais uma
batalha da vida. Saudade de dançar e cantar e chorar e orar e depois dançar de
novo e ser tão, mas tão feliz. Saudade de sentar na cama no fim do dia pra
escrever planos bonitos, planejar a viajem dos sonhos e agradecer a Deus por
saber que, mesmo que os sonhos demorassem a se concretizar, eles seriam reais.
E ainda sem personificação eles eram, e depois de anos eles foram, eles
passeiam por aqui, eles existem. Saudades de comer besteira e ser uma
bochechudinha feliz. Saudades de virar o cabelo pra frente e descobrir o decote
nas costas que me fez muito mais linda. Saudades de não dar a mínima pras
lágrimas ou pelos incontáveis motivos que eu tinha pra chorar. Saudades de poder
tremer de alegria por uma mensagem, um número acendendo na telinha do celular.
Saudades de sem querer mudar a foto da rede social, a foto que eu odiava e que
mudar me trouxe um alívio danado! Saudades de ser esperança, ainda que espera.
De ser feliz ainda que à duras penas. Saudades das fotos e dos sorrisos
grandes. Saudades de chegar no meu cantinho e poder ser coração, razão e afeto,
de não ser notada mas de ser muito amada. Saudades... O peito se incha de você,
mas tenho as fotos pra lembrar e amar, tenho as lembranças no corpo pra fechar
os olhos e acessar, tenho vontade de sobra dentro de mim pra levantar e fazer
bem feito, fazer melhor, superar o passado feliz. Começar de novo, tentar mais
uma vez e escrever memórias ainda maiores e mais valiosas que num futuro
distante ou próximo remexa tudo aqui dentro e me faça sorrir.
Carolina Santana, Ainda sobre saudade, 17 de julho de 2016
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